sábado, 15 de setembro de 2012

O Amor Infinito de Pedro e Inês, de Luís Rosa

Neste livro, um tema e um autor de que gosto particularmente.
A minha predileção pelo romance histórico fez-me conhecer Luís Rosa, o autor deste livro, logo quando publicou o seu primeiro romance, O Claustro do Silêncio.
A história dos amores de Pedro e Inês é somente a mais bela história de amor da cultura portuguesa, matéria-prima para as mais diversas leituras artísticas. Se há "vidas que o são para sempre. Mesmo depois de mortas", a vida deste amor é uma delas, daí o aproveitamento artístico de que tem sido alvo. 'Seu nome ficou na história como símbolo do amor', canta José Cid (Balada para D. Inês (José Cid, Festival RTP da Canção, 1968)
E é o amor, ou a sua desmesura, que é apontado como o causador de todos os sucessos desta história: "O amor é essa turvação da alma, belo e desmedido, que faz o seu caminho por cima de tudo o que se inventa"; "Amaram-se. Daquela maneira que a gente não sabe dizer."; "Não lhe façam leis nem conveniências, pois o amor nunca caberá na quadrícula rectilínea duma regra, nem na pequenez de uma conveniência". Também Camões culpara o amor pela morte de Inês de Castro:

«Tu só, tu, puro Amor, com força crua,/Que os corações humanos tanto obriga,/Deste causa à molesta morte sua,/Como se fora pérfida inimiga./Se dizem, fero Amor, que a sede tua/Nem com lágrimas tristes se mitiga,/É porque queres, áspero e tirano,/Tuas aras banhar em sangue humano.» (Camões, Os Lusíadas, III, 119).

A linguagem doce, filosófica e até um pouco onírica é bruscamente substituída pela frieza no momento em que se narra a execução de D. Inês, combinando a crueza da expressão com a brutalidade dos atos apresentados:

"Conselheiros, fidalgos e oficiais de justiça subiram em turbamulta as escadas do paço. Vários homens agarraram Inês, que inutilmente esbracejava.
Alguém deu ordem ao algoz para que a degolasse. Depressa, para que o pensamento não pensasse mais, nem houvesse razões para adiamentos.
Afastaram-lhe os filhos em choro. E quando o algoz avançou, a bela mulher ainda fez um esforço de leoa cercada, para lhe cravar as mãos na veste do ofício medonho. Inútil. Outros lhe prenderam as mãos atrás das costas e a fizeram vergar sobre o cepo.
O carrasco deu um golpe apenas, eficaz e certo, de quem sabia do ofício. Como ponto final do auto ficcionado de cruenta realidade.
Fez-se silêncio brusco. Aqueles que se não suportaram a si próprios fugiram espavoridos."

Não podemos deixar de referir, para terminar, o rigor histórico que caracteriza a escrita de Luís Rosa e que é bem notório neste romance. Prova disso são as referências: ao relacionamento de D. Pedro com o seu pai, D. Afonso IV; à sede de vingança que levou D. Pedro a perseguir e castigar de forma violenta os responsáveis pela morte de D. Inês; aos detalhes dos túmulos do casal; à trasladação e coroação daquela que "despois de morta foi Rainha". Foi também por respeito ao rigor histórico que Luís Rosa resistiu à tentação de inserir no seu livro a cena lúgubre com que, vulgarmente, se culmina a história de Pedro e Inês e à qual não resistiram os realizadores destes dois filmes, tão distantes um do outro no tempo:
Inês de Castro, de Leitão de Barros (1944)
La Reine Morte, de Pierre Boutron-Montherlant (2009)



1 comentário:

  1. Parece-me ser um livro detentor de uma enorme complexidade na linguagem, o que me suscita interesse.

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