terça-feira, 4 de setembro de 2012

Travessuras da Menina Má

Este não é um livro de um autor português, mas foi o primeiro livro lido nestas férias de verão e também o primeiro que li de Mario Vargas Llosa, Prémio Nobel da Literatura em 2010.
O livro foi comprado para oferecer a uma amiga que andava a descobrir a obra do autor peruano. Sendo este um dos títulos mais conhecidos, aconteceu o óbvio: ela já o tinha. Apressei-me a escolher outro para lhe oferecer e dediquei-me à leitura das Travessuras da Menina Má.
A existência de Ricardo ao longo de grande parte do séc. XX é narrada na 1.ª pessoa e gira à volta de dois grandes eixos: a vida profissional como tradutor, em Paris, cidade para onde Ricardo, desde pequeno, desejava emigrar; a vida amorosa, quase totalmente dedicada a uma mulher que aparece e desaparece da vida do protagonista, consecutivamente, com nomes, maridos e vidas diferentes. Esta mulher, a 'menina má', produz em Ricardo um fascínio que se iniciou na adolescência, ainda no Peru, e que não tem fim, provocando na personagem-narrador a sensação de fracasso, pois, apesar das várias promessas que faz a si mesmo de não voltar a cair nas teias da 'menina má', Ricardo não resiste, submetendo-se aos caprichos dela, correndo diversos perigos, viajando por diferentes locais (Londres, Tóquio, Madrid), ora procurando-a, ora tentando escapar-lhe.
A 'menina má', cujo verdadeiro nome só é descoberto no final, é uma mulher que se serve da sua beleza e do encanto que provoca nos homens para ascender socialmente, trocando cada marido por outro que lhe garanta um degrau acima na escadaria social. Só por uma vez a 'menina má' passa de controladora a controlada, quando se apaixona pelo único homem que não a trata bem, tendo de se auto-superar para se libertar desta situação. Para ela, Ricardo não passa do porto seguro a quem pode recorrer sempre que está em maus lençóis. Por vezes, esforça-se por amá-lo e por se conformar a uma existência que considera medíocre, mas a ambição é mais forte do que ela.
O final é, no entanto, doce e Ricardo tem, em certa medida, uma espécie de recompensa por uma vida de dedicação. Isto não impede que, enquanto leitora, tenha sentido alguma incredulidade a até revolta. Como pode alguém rebaixar-se ao ponto de cair repetidamente na mesma armadilha? Como pode alguém abusar do amor que outro sente por si, não se importando com os danos que causa? Haverá amor que resista a tal tratamento?

«No meu quarto de hotel, deitei-me na cama, vestido. Sentia-me fatigado, magoado e ofendido e não tinha disposição nem para despir a roupa. Passei horas com a mente em branco, acordado, sentindo-me uma porcaria humana impregnada de estúpida inocência, de ingénua imbecilidade. Durante todo o tempo, repetia com os meus botões, como um mantra: 'A culpa é tua, Ricardo. Já a conhecias. Sabias do que era capaz. Nunca te amou, sempre te desprezou. Porque é que choras, borra-botas? De que é que te queixas, o que é que lamentas, paspalhão, pateta, imbecil? É o que tu és, tudo o que ela te chamou e mais ainda.(...)'».

O livro proporciona-nos ainda alguns quadros relativos à evolução da situação política no Peru no séc. XX.

1 comentário:

  1. Gosto do livro, apesar de ter um assunto muito controverso pela maneira que uma mulher usa o amor, a sedução por um propósito maior, mostrando assim a crueldade no limite da mulher. Bem diziam os gregos, que as mulheres são perigosas ;).

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