(Capa do livro AUTO DA ALMA) |
Este é um livro do tão chamado "o pioneiro da dramaturgia portuguesa" (Gil Vicente). Trata-se de uma obra de
teatro, como podemos ver pelo título, Auto
da Alma.
É uma obra que pertence à
literatura didática, isto é, feita no âmbito escolar, pelo que esta é uma
edição escolar do verdadeiro livro, que integra um preâmbulo, uma introdução,
intitulada de O AUTO DA ALMA, um texto fac-similado de 12
páginas (com português da época), um “texto anotado”, isto é, com notas. Este
"texto anotado" está acompanhado de notas de auxílio para compreensão
do significado de palavras, do sentido de frases e também de construções sintáticas.
Integra, também, um questionário ideológico, estilístico e gramatical que, para
além de complementar a leitura, pretende forçar a compreensão do livro. E, por
último, apresenta um glossário.
Esta obra relata, na minha
opinião, o desejo de suicídio de uma Alma e os contribuintes para a purificação
da alma e o respetivo e hipotético regresso ao corpo.
Esta é uma obra que
superou minhas expectativas. Quando observei a capa desta obra, deparei-me com
o pensamento de que esta seria uma obra de teatro com semelhanças à obra que
relata a Alma de Aristóteles (De Anima).
No entanto, não se trata de uma obra filosófica sobre a Alma, quanto mais de
uma obra de conceitos morais ou éticos, mas sim uma obra religiosa sobre a
Alma, ou seja, integra conceitos religiosos, de que a alma vai para o céu e
para o inferno, de que devemos tornar a nossa vida digna e honrada.
Em termos de relações
intertextuais, encontro semelhanças muito particulares com o Auto da
Barca do Inferno do
mesmo autor: o Diabo com o mesmo tom irónico (nesta obra aparecem
dois); o Anjo (nesta obra chamado Anjo Custódio) com a mesma atitude
justiceira, só que, no entanto, nesta obra apresenta-se, também, compadecido,
tendo em conta que se trata de uma obra que relata o desejo de suicídio de uma
Alma. A única novidade que encontro é mesmo a apresentação de santos,
nomeadamente Santo Agostinho, Santo Ambrósio, S. Jerónimo e S.Tomás.
A tal ideia de que Gil Vicente é o Pai do Teatro Português não é completamente correta, daí eu ter colocado entre aspas(""). Na realidade, o teatro português não nasceu com Gil Vicente. Este mito foi criado por vários escritores de valor, nomeadamente Garcia de Resende, na obra Miscelânia e inclusive o seu filho (de Gil Vicente), Luís Vicente. Pois a primeira obra de Drama/Teatro que Gil Vicente escreveu foi o Monólogo do vaqueiro no ano de 1502. No entanto, estas duas citações retiradas do Wikipedia revelam o quanto errado estava o cognome e o valor dado a Gil Vicente (não é que não o merecesse, mas há que reconhecer a pessoa pelo que fez e não pelo que supõem ter feito): «Já no reinado de Sancho I, os dois actores mais antigos portugueses, Bonamis e Acompaniado, realizaram um espectáculo de "arremedilho"» ; «Em 1451, o casamento da infanta Dona Leonor com o imperador Frederico III da Alemanha foi acompanhado também de representações teatrais.».
ResponderEliminarPortanto, já existiam representações dramáticas bem antes de Gil Vicente. Numa situação hipotética, este cognome pode ter-lhe sido dado pela razão de este ser o Pai do [bom] teatro Português, isto é, de este ter sido o primeiro a realizar obras dramáticas de boa qualidade.
A explicação tem a ver com o texto dramático. De facto, já havia representações teatrais em Portugal antes de Gil Vicente, mas não havia textos escritos para esse fim, ou seja, as representações baseavam-se em cenas bíblicas ou outras histórias e os atores representavam-nas de uma forma muito rudimentar. Com Gil Vicente, nasceu o texto dramático, isto é, texto escrito com a finalidade específica de ser representado e é por isso que se diz que ele é o pai do teatro português.
EliminarPode ser, de facto, nesse sentido que Gil Vicente era adorado e foi-lhe atribuído esse apelido, professora.
EliminarNa verdade, Gil Vicente ia muito além daquilo que, antes dele, se fazia em Portugal. É um autêntico génio no que concerne à dramaturgia, que foi capaz de encontrar soluções técnicas, através do classicismo, à medida das necessidades, sendo, assim, este autor de renome um Humanista. Neste sentido, ele pode ser encarado como o verdadeiro criador do teatro nacional-Português.
Acredito que não te tenhas arrependido da escolha, já li algumas peças de teatro de Gil Vicente e gostei. Gil Vicente teve no teatro o condão que viria a ter na prosa Eça de Queirós, apresentam-nos sublimes sátiras sociais.
ResponderEliminarNinguém como Gil Vicente criticou tão bem a sociedade da época, já que este apresentava as mais variadas personagens nomeadamente o Parvo do auto da barca do inferno que num tom jocoso e algo irresponsável, troçava dos membros da nobreza e do clero.
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