segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Dentro do Segredo, de José Luís Peixoto



       Li este livro durante a interrupção de Natal. É um livro diferente dos que costumo ler, uma vez que tenho preferência por livros de ficção e este, como se pode adivinhar pelo subtítulo 'Uma viagem na Coreia do Norte' enquadra-se no género 'literatura de viagens'. Ainda assim, gostei muito desta leitura, pois sempre tive muita curiosidade pela Coreia do Norte, que é considerado o país mais fechado do mundo, daí o título Dentro do Segredo. Esta curiosidade foi suscitada pelas poucas notícias que nos chegam daquele país. As mais recentes prendem-se com a suposta e violenta execução de um tio do atual líder do país, Kim Jong-un, a mando deste, o delírio coletivo da população aquando da morte do anterior líder e até mesmo os supostos castigos a que foram sujeitos os jogadores da seleção norte-coreana de futebol após a derrota por 7-0 com Portugal, no Mundial de 2010.
       Em abril de 2012, José Luís Peixoto integrou um grupo de turistas que conseguiu autorização para visitar a Coreia do Norte através de uma agência de viagens chinesa. Este grupo teve o privilégio de visitar diversas regiões da Coreia, algumas das quais não recebiam um estrangeiro há mais de 60 anos, sempre acompanhados por dois guias fiéis ao regime, que pretendiam de todas as formas engrandecer o país e os seus líderes, o que se revelava, na maioria das vezes, ridículo, pois ao autor não passavam despercebidas as inúmeras estratégias aplicadas para mostrar uma realidade que não existia. 
       O controlo político a que estes turistas estiveram sujeitos foi registado em diversas ocasiões: no ato de lhes confiscar o telemóvel à chegada ao aeroporto, tendo apenas sido devolvido no final da viagem; na inspeção às máquinas fotográficas, feita por militares, no sentido de verificarem se  tinham sido respeitadas as regras (eram proibidas as fotografias tiradas de veículos em movimento bem como as fotografias às estátuas dos líderes que não mostrassem as estátuas na totalidade, por exemplo); no controlo das chamadas telefónicas feitas a partir dos hotéis, ... 
     A leitura deste livro permitiu-me ainda conhecer as causas da divisão da Península Coreana em dois países tão distintos um do outro: a Coreia do Norte e a Coreia do Sul. Em 1910, o Japão invadiu e dominou a Península Coreana, tendo levado a cabo uma política de destruição cultural (reescreveu os livros de história, proibiu o uso do hangul, o alfabeto coreano, por exemplo). Esta situação durou até ao final da II Guerra Mundial, quando o Japão se viu derrotado e os aliados entraram na Coreia, os Russos e os Chineses pelo Norte da península e os Americanos pelo Sul. Estes povos exerceram influências distintas nas diferentes áreas da Coreia, tendo o Norte sido catequizado pelo comunismo e o Sul pelo capitalismo. Quando, nos anos 50, se promoveram eleições gerais, o Norte e o Sul não se entenderam, tendo cada uma das áreas apresentados resultados eleitorais diferentes e conformes às influências recebidas. Perante uma ameaça de guerra civil, os EUA criaram uma fronteira no famoso Paralelo 38, exatamente onde ainda hoje se situa a fronteira entre a Coreia do Norte, com capital em Pyongyang, e a Coreia do Sul, com capital em Seul.

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