Manhã Submersa
O livro que li foi Manhã Submersa de Vergílio Ferreira. Trata-se
de uma narrativa autodiegética, cuja personagem central é António dos Santos
Lopes (por alcunha, o Borralho), de doze anos que vive na Beira Alta.
Filho de uma família pobre, o
narrador conta, passados vinte anos, o tempo em que permaneceu no seminário,
para onde fora enviado, contra a sua vontade. A verdade é que a família quis que ele fosse
para o seminário, porque assim teria uma vida melhor e um futuro garantido. D.
Estefânia, sua protetora, era uma senhora rica, beata e viúva e pretendia torná-lo padre.
António vai duvidando se tem ou não vocação
para ser seminarista. Certo dia, ele descobre que não é o único que pensa
também assim. Como percebeu isso, escreveu uma carta para a sua a mãe a dizer
de que queria desistir, mas foi apanhado por um padre de surpresa, porque este
pede-lhe para que lhe entregue a carta, e António entrega-lhe. Momentos depois,
é chamado para falar com uma senhora que lhe pergunta se este acha que tem ou
não vocação para tal. Por momentos, António, diz que sim, mas logo depois confessa que não e então ela manda-o sair imediatamente do seu gabinete.
Mais tarde, todos os alunos são chamados à igreja. O Reitor faz um discurso dizendo que o seminário não é nenhuma prisão e que se preferirem ir embora são livres. Durante o discurso, expulsou dois seminaristas que haviam tentado fugir durante a noite.
Mais tarde, todos os alunos são chamados à igreja. O Reitor faz um discurso dizendo que o seminário não é nenhuma prisão e que se preferirem ir embora são livres. Durante o discurso, expulsou dois seminaristas que haviam tentado fugir durante a noite.
Entretanto, o Padre Martins passa todo apressado com um bilhete
na mão. Gaudêncio e António ficam curiosos. Tratava-se de uma ameaça anónima de
atear fogo ao seminário.
Descobrem, entretanto, que Gama é
quem escreve os bilhetes ameaçadores e que foi ele quem lançou fogo ao seminário.
Quando foi descoberto, foi imediatamente expulso do seminário. No entanto, primeiro
perguntam-lhe se havia cúmplices, mas ele admite que fez tudo sozinho.
O Padre Fialho tem uma conversa
com António, sobre tentações que este possa ter sentido, tentações do demónio, António
revela ao padre que apenas tem sentido saudades da mãe. Gaudêncio mostra uma
revista com imagens femininas a António. Este tenta resistir à tentação de olhar
e atira a revista para o chão. O Padre que ia a passar apanha a revista. António
tenta desculpar-se mas o Padre não quis saber das suas justificações. Todos os
seminaristas são chamados formando uma fila. O Padre Martins arranca a fita de
bom comportamento do pescoço de António. Depois disto, António confessa a
Gaudêncio que quer sair do seminário.
Drº Alberto, na hora do jantar,
faz muitas perguntas a António que mostra ‘’desprezo’’. António, sem querer, faz-lhe
saltar um bocado de carne do prato para a mesa. E a Dona Estefânia pergunta-lhe
se no seminário não lhe ensinam como saber estar sentado a mesa. Depois, Drº
Alberto faz-lhe uma pergunta sobre um verbo em latim e António não é capaz de
responder. Este humilha-o impiedosamente.
António vai à casa da mãe
dizendo-lhe que não quer voltar para o seminário. A mãe responde-lhe agressiva:
“que sabes tu da vida?”. Diz-lhe que tem sido toda a vida uma “cadela”, cheia
de fome e de trabalho, e que se ele fosse padre poderia ter uma boa velhice e
os irmãos uma boa vida. Que sempre tinha sonhado ter um filho padre para poder
conviver com “as beatas ricas”. Mas António certo da sua decisão continua a
recusar o regresso ao seminário.
De regresso ao seminário, António conversou
com Gaudêncio. Ambos confessam que as suas mães não os deixaram sair do seminário.
Gaudêncio pergunta a António se ele nunca pensou se Deus poderia não existir. António
fica escandalizado.
Alguns seminaristas queixam-se de
frio, têm arrepios e são levados para a enfermaria, e consequentemente adoecem. António tenta aproveitar a situação e finge estar doente, ao contrário do seu
amigo Gaudêncio que estava mesmo doente. Entretanto, todos os seminaristas que se
aparentavam bem de saúde são mandados para casa, fazendo com que António se
arrependesse de ter fingido a doença.
Gaudêncio morre, António vai à
enfermaria e o Padre Alves diz-lhe que Gaudêncio já está perante Deus. António
chora silenciosamente e reza pelo seu falecido amigo. E no dia seguinte,
fazem-lhe o funeral.
O final trágico dá-se nas férias
da Páscoa. António tem um plano para mudar o rumo da sua vida e coloca-o em prática: lança foguetes durante
a festa de aniversário do Dr. Alberto, filho de D. Estefânia, e acaba por ficar mutilado perdendo dois dedos, pois um foguete havia rebentado na sua mão. Deste modo, António não pode ser padre, sendo que, no último capítulo, António revela que está apaixonado por uma rapariga.
O livro parece interessante, gostaria de saber o que achas deste "final trágico" e também gostaria de saber a tua opinião sobre o autor, tendo em conta o seu estilo de escrita e a maneira como desenvolve a história.
ResponderEliminarParece-me um livro interessante, acho que irei ler para o Projeto Individual de Leitura do próximo ano letivo. Na minha opinião, este fim é um pouco determinado pelo destino pois ele já não vai ser padre devido a um amor e o facto dele perder dois dedos.
ResponderEliminarUm livro com contornos autobiográficos. A dureza dos "servos da gleba", vivendo no interior ultramontano, vivendo na dependência senhorial. Onde a escolha de um projeto de vida, é perfeitamente impossível. Resta a única hipótese, ir para o seminário. As agruras da vida seminarista, vividas por uma criança que com o entrar na adolescência se questiona naturalmente e progressivamente ganha a consciência do mundo kafkiano de viver num seminário com as suas regras.
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